Atualizado em 06/02/2021
FÉLIX VALOIS - Vacinado
Felix Valois é advogado
Tomei a vacina. Não me perguntem qual, porque não sei. Sei apenas que era uma vacina contra essa praga que já passou de todos os limites.
Interessante é que faz mais de vinte e quatro horas que fui vacinado e ainda não consegui perceber nenhum tipo de metamorfose. Não estou em nada parecido com um jacaré.
Essa coisa bolsonarista que convencionaram chamar de “negacionismo” é ridícula, mas é, também e muito, perigosa.
O capitão, com a ignorância que o caracteriza, fez de tudo para sabotar a vacina, até mesmo encontrar viés ideológico no medicamento. Como é que alguém pode achar que uma vacina pode ser de esquerda, direita, centro ou quantas direções haja no espectro da política? É preciso ser muito estúpido para se comportar de acordo com esse tipo de convicção.
Na minha insignificância, confesso que estou de saco cheio (desculpem a vulgaridade, mas não encontro outra expressão para dizer o que sinto). Estou cheio de idiotice, de arrogância, de brutalidade.
Os meus amigos que partiram foram, em parte, ceifados por essa mentalidade ridícula, que menospreza a ciência e endeusa o achismo. E a ausência deles não pode ser compensada por medida nenhuma, de nenhuma ordem. Foram-se e pronto. Restou-me só a plenitude da angústia e a dor de uma saudade tão grande que não comporta descrição. Muito ruim; muito triste.
*O autor é advogado, professor universitário e integrou a comissão de juristas instituída pelo Senado Federal para elaborar a proposta de reforma do Código de Processo Penal*